Em 1986, quando as marcas da ditadura militar ainda seguiam presentes no Brasil e o SNI (Sistema Nacional de Informações) registrava cada detalhe, Jesus Salvador foi preso em Campo Grande por tentar espalhar ideias políticas de esquerda. Apesar do nome, o colombiano não falava sobre religiões e foi fichado pela Polícia Federal com a justificativa de que estava fazendo “pregações políticas de defesa ao estrangeiro’.
Hoje, muito se sabe que os Estados Unidos da América, por exemplo, se relacionam com a ditadura e que as pessoas não costumavam ir presas na época por defender o país norte-americano. Enquanto isso, Jesus, que queria uma união entre a América Latina, foi parar na prisão em Mato Grosso do Sul.
Em documento registrado pelo SNI, o homem se apresentava com muitos títulos em Campo Grande, mas todos sem confirmação conforme o órgão ligado ao serviço público federal. Engenheiro Dr. PHD em Eletrônica e Química, tradutor e médico formado na África do Sul foram os destaques.
Além disso, por aqui, se intitulava presidente da Sociedade Bolivariana do Brasil-América Latina de Campo Grande, presidente executivo geral do Centro de Integração Latino Americano para o Continente do Estado/MS e diretor executivo da Universidade Autônoma Latino-Americana-Libertadores da América do Brasil.
E, especificamente sobre a prisão, tudo ocorreu por uma “pregação’ no Paço Municipal para algumas poucas pessoas.
“Jesus Salvador iniciou a sua palestra tecendo considerações históricas sobre o desejo de integração dos povos da América Latina, onde a figura de Simón Bolívar é o maior expoente desse sentimento libertário e unificador. Continuando, disse que no Brasil, ‘o antecessor de Dom Pedro II, José Bonifácio da Silva, pensava da mesma maneira e também queria uma América Latina sem fronteiras e constituída de uma única nação’, descreve o documento.
Seguindo com sua fala, Jesus teria criticado os países que seguiam sob ditaduras militares, tendo destacado o Chile, Belize e Paraguai. “Concluindo: ‘da mesma forma que o Brasil que de uma ditadura militar passou para uma democracia disfarçada’’.
Por ali, outros integrantes do grupo de Jesus convidaram para encontros das instituições que o homem fazia parte, encerrando com agradecimentos de convidados para a “solenidade alusiva aos 204 anos de memória de Simon Bolívar’.
Segundo o relato do Ministério de Justiça, a prisão foi realizada por suas “pregações’ e “postura política assumida em nome das entidades que se diz presidir, as quais não possuem registro em nenhum órgão de registro público’.
Além das falas, documentos e materiais encontrados em sua casa e escritório também foram apreendidos para completar a prisão. Segundo os documentos reunidos pelo SNI, o homem feriu as então leis que se aplicavam aos imigrantes em que era proibido que exercessem atividades de natureza política nos negócios públicos do Brasil. Veja mais detalhes abaixo:
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