À frente de um trabalho focado na preservação de inimigos naturais da cigarrinha das raízes (Marhanarva fimbriolata), ancorado também na aplicação do ingrediente ativo inseticida seletivo piriproxifen, o pesquisador Newton Macedo faz um chamado à cadeia produtiva da cana-de-açúcar. Segundo ele, o produtor tende a enfrentar entraves fitossanitários e econômicos se não controlar essa praga no início, quando a mesma estiver na ‘primeira geração’.
Macedo explica que no momento em que ocorrem condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da primeira geração da cigarrinha das raízes, a praga apresenta população numericamente superior frente aos organismos benéficos. “Entra-se então com o inseticida piriproxifen. O produto age sobre a cigarrinha e não pega em inimigos naturais de pragas.” Nesta relação, ele acrescenta, incluem-se polinizadores, meliponídeos, formigas e agentes como Cotesia flavipes, parasitoide da broca da cana-de-açúcar.
“Nossa preocupação é preservar o que existe na natureza. A cana-de-açúcar é um meio biológico com capacidade para dar suporte à vida de organismos benéficos”, observa Macedo. Para ele, controlar à cigarrinha das raízes na primeira geração, com esse inseticida seletivo, eleva ainda o potencial de preservação de inimigos naturais de outras pragas importantes, impulsionando assim o chamado ‘controle natural conservativo’. “Nos dias de hoje, piriproxifen se mostra o defensivo mais amigável aos organismos benéficos da cana”, diz.
Segundo informa o consultor, toda área de cana que tiver registro histórico de populações de cigarrinha das raízes, acumulará ovos da praga para a safra seguinte. “Ela vai aparecer, basta haver condições climáticas para eclosão de ninfas (formas jovens do inseto). Isto ocorre para nós, da região Centro-Sul, no início das chuvas da primavera-verão. E neste 2023/24, estamos também diante do fenômeno El Niño, com extremos climáticos e chuvas irregulares.”
“Não é possível controlar a primeira geração da cigarrinha das raízes com qualquer inseticida”, continua Macedo. “O piriproxifen ‘pega’ a praga ainda na fase de ovo, não dá tempo nem para ocorrer a eclosão das ninfas”, afirma. Ele reitera a relevância do benefício da alta seletividade entregue pelo inseticida. “A presença de inimigos naturais no canavial é importante a ponto de impedir que 85% ou mais de ovos da broca-da-cana, altamente danosa, convertam-se em praga.”
De acordo com Newton Macedo, o setor sucroenergético deve redobrar a atenção em relação à cigarrinha, sobretudo, quando houver acumulado médio de chuvas acima de 70 mm, em um período de 15 dias. Com essa precipitação, ele afirma, as cigarrinhas estarão no solo. “Quando as ninfas eclodem, fixam-se nas raízes jovens da cana e produzem uma espuma, exatamente para se proteger de inimigos naturais, além de radiação solar ou secamento.”
Segundo Macedo, se ao entrar na lavoura o produtor enxergar ‘pontinhos de espuma’, é sinal de que a cigarrinha está na área. “Esse é o momento de tratar”, indica. “Uma vantagem de antecipar a aplicação do piriproxifen é que o produtor não precisará superdimensionar equipamentos, máquinas. Caso busque medidas de controle com a praga na segunda geração, estará sujeito a riscos à produtividade, além de ao mesmo tempo mobilizar mais capital.”
Em outro cenário, o que consiste no controle da cigarrinha a partir da segunda geração do inseto, alerta o pesquisador, o produtor enfrentará mais desafios. “Um deles é de que o canavial já terá convivido com a praga. Uma geração do inseto dura 60 dias, tempo representativo e período em que a planta precisa de boas condições para crescer, enquanto a presença da cigarrinha traz danos.”
Postergar a aplicação de inseticidas para o segundo momento, portanto, conforme enfatiza Macedo, embora permita ao produtor controlar à cigarrinha das raízes, dependendo do produto escolhido, mesmo ativos de alta eficiência, “atingirá drasticamente aos inimigos naturais da praga”, a essa altura, segundo ele esclarece, presentes no canavial em populações mais numerosas, comparadas às da época do surgimento da primeira geração do inseto.
Conforme especialistas, o manejo da cigarrinha-das-raízes representa 33% do custo com defensivos agrícolas na safra. Macedo acrescenta que, não controlada adequadamente, a praga detém potencial para prejuízos robustos.
“Perdas podem chegar a 50% da produtividade. Em termos de ATR, o risco médio de dano atinge 30 quilos por tonelada de cana. O impacto é violento. A cigarrinha tem força para danificar o açúcar cristalizado e levar contaminação à produção de etanol. O custo do produtor, portanto, sobe representativamente.”
BATANEWS