A Organização Mundial da Saúde (OMS) investiga casos de uma doença desconhecida que causou ao menos 30 mortes e afetou 394 pessoas em uma comunidade rural de Kwango, província no sudoeste da República Democrática do Congo. A entidade informou nesta sexta-feira, 6, que especialistas se deslocaram para a região para dar suporte às autoridades de saúde e realizar testes laboratoriais para determinar o agente por trás das infecções. A situação levanta preocupação porque o país já está enfrentando um surto da linhagem mais letal da mpox, zoonose viral que ficou conhecida como varíola dos macacos e monkeypox.
A situação na comunidade rural de Panzi, que fica a mais de 700 km da capital Kinshasa, é monitorada desde a semana passada. Autoridades locais informaram um número maior e disseram que, entre 10 e 25 de novembro, a doença matou 143 pessoas. As pessoas infectadas apresentaram dificuldade para respirar, febre, tosse, dor de cabeça e anemia. Por causa dos sintomas respiratórios, a OMS e as autoridades locais estão investigando se os casos têm relação com a influenza (vírus causador da gripe) e a covid-19. Também apuram outras doenças conhecidas, como malária e sarampo.
“Nossa prioridade é fornecer suporte efetivo às famílias e comunidades afetadas. Todos os esforços estão em andamento para identificar a causa da doença, entender seus modos de transmissão e garantir uma resposta apropriada o mais rápido possível”, informou, em nota, Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para a África.
A equipe da entidade é formada por epidemiologistas, clínicos, especialistas em prevenção de infecções e técnicos de laboratório. Eles levaram kits para coleta de amostras e para diagnóstico, além de medicamentos considerados essenciais. Assim que o patógeno for identificado, a OMS vai torná-lo público.
País em situação de fragilidade
Médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Rosana Richtmann diz que a República Democrática do Congo está com o sistema de saúde sob pressão diante da quantidade de patógenos em circulação atualmente, inclusive a forma mais grave da mpox.
“Por lá, circula o ebola, e eles estão tendo, ao mesmo tempo, um surto de mpox. A situação de saúde do país é bastante fragilizada”, diz Rosana, que também é diretora do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O clado Ib, que fez com que a OMS retomasse o status de emergência global para mpox e está em surto atualmente, leva a quadros mais graves e é mais letal. Enquanto a cepa anterior, o clado II, matava 1% dos acometidos, a nova versão chega a 10%.
Segundo balanço da entidade com dados fechados em 3 de novembro, o país somava 1.647 casos. No cálculo com os episódios suspeitos, o número chegava a 10.875.
A infectologista diz que a OMS está investigando a situação e que patógenos conhecidos estão em avaliação. “Pela sintomatologia, o mais provável é que seja uma doença infecciosa causada por um vírus de transmissão respiratória para ter esse número de casos. Mas pode ser um vírus da gripe ou covid com uma característica diferente.”
De acordo com Rosana, as mortes podem estar relacionadas às dificuldades locais. “É uma zona rural que tem uma infraestrutura ruim com grau de desnutrição importante. Os dados que a gente está recebendo mostram que a maioria dos casos de óbitos está relacionada a crianças com menos de 5 anos. Com carência de assistência médica e crianças mais debilitadas, há mais risco de casos fatais.”
A médica
infectologista explica que não é necessário entrar em pânico, pelo fato de ainda ser uma doença desconhecida em disseminação. “Nada de alarme, porque está bastante localizada e está sendo investigada. Provavelmente, teremos respostas nos próximos dias.”
Com informações da Revista Veja
BATANEWS