A torcida organizada Gaviões da Fiel elabora uma campanha de arrecadação de recursos para a quitação ou amortização de parte do financiamento feito pelo Corinthians com a Caixa Econômica Federal para a construção da Neo Química Arena, inaugurada em 2014.
Atualmente, a dívida do clube com o banco pela construção do estádio é de mais de R$ 710 milhões. Neste momento, o Corinthians ainda paga valores relacionados aos juros do financiamento, não tendo quitado efetivamente o valor do empréstimo.
O débito da arena corresponde a um importante momento da dívida do Corinthians, que superou R$ 2,1 bilhões no último balanço do clube, em março. O pagamento do estádio aliviaria as contas, possibilitando um maior investimento no futebol e facilitaria o pagamento do restante da dívida.
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Qual o plano da torcida?
A intenção da maior torcida organizada do Corinthians é promover uma espécie de vaquinha entre os corintianos interessados em ajudar o clube a pagar a dívida do estádio. Na avaliação do grupo, a base de 35 milhões de torcedores seria capaz de ajudar o clube a chegar próximo ou até quitar o valor total devido pelo financiamento.
A ideia inicial seria em ter uma chave PIX para que as doações fossem creditadas e abatidas automaticamente do valor devido pelo Corinthians com o banco. Por isso, o objetivo é ter a chancela da Caixa para que o dinheiro caia diretamente na conta indicada pela estatal, sem qualquer participação ou envolvimento de terceiros na transação.
O plano, segundo os Gaviões da Fiel, ganharia credibilidade com a parceria do banco. No entanto, a torcida organizada entende que há um longo caminho a ser percorrido até a formatação de uma campanha que atenda aos requisitos da Caixa e que dê segurança a quem quiser fazer doações.
– A ideia é possibilitar doações que serão creditadas diretamente na conta da Caixa, onde a Fiel Torcida acompanhará todas as fases e os valores arrecadados, e não haverá a possibilidade de nenhum dirigente do clube movimentar o valor arrecadado. A ideia é simples: o Corinthiano vai ajudar o Corinthians, independente de quem quer que seja – disse os Gaviões da Fiel em nota enviada ao ge.
Outra alternativa é a criação de uma conta “escrow” (garantia na tradução em português), que teria um valor mínimo de arrecadação que seria liberado para o pagamento da arena apenas em caso de cumprimento do que foi acordo entre as partes.
Por exemplo, Caixa e a torcida organizada estabeleceriam um valor fixado a ser arrecadado. Assim que fosse atingido, o valor automaticamente seria utilizado para o abatimento da dívida. Um eventual valor excedente ao pré-determinado ficaria à espera de um novo acordo para ser liberado.
Portanto, ainda não há uma definição de qual será o projeto mais viável para o início da campanha. E nem um prazo para que ela comece. Ainda há uma preocupação entre os torcedores para falsas campanhas que possam ser feitas por golpistas. Por isso, a intenção é unir clube, banco e torcedores para que diminuam as chances de criminosos em aplicar golpes.
O Corinthians aprova o projeto?
O ge apurou que os Gaviões da Fiel apresentaram o projeto ao Corinthians, mas ainda não pediram autorização formal para dar sequência ao plano. Isso só será feito caso seja necessário para que o projeto saia do papel.
O Corinthians não irá se pronunciar sobre o tema por se tratar de uma iniciativa de torcedores e que não tem qualquer ligação com o clube.
Internamente, outras propostas para o pagamento do financiamento com a Caixa têm sido debatidas. Apenas após a nomeação de um novo diretor financeiro (o cargo que está vago desde a saída de Rozallah Santoro) que o Corinthians deve retomar as negociações com a estatal.
O presidente Augusto Melo chegou a citar o projeto em conversa com torcedores em protesto no Parque São Jorge na última semana, deixando claro que pode ser uma alternativa que ajude a controlar as finanças. Apesar disso, ainda não há um apoio oficial do clube sobre o tema.
O que diz a Caixa?
O ge entrou em contato com a Caixa Econômica Federal sobre o encontro com membros dos Gaviões da Fiel e a possibilidade de ajudar a estruturar um plano para o pagamento da dívida do Corinthians pelo financiamento da Neo Química Arena.
O banco estatal não revelou detalhes do que foi conversado nem quais foram os representantes na reunião com os torcedores, mas confirmou o encontro. Veja abaixo a nota da Caixa enviada ao ge:
A CAIXA confirma a reunião realizada com representantes de torcida organizada do Corinthians, na última sexta-feira (14), que teve o intuito de ouvir a proposta dos torcedores.
O banco reforça que, em razão do sigilo bancário, detalhes sobre a estruturação da dívida não foram mencionados no encontro.
Qual o valor da dívida?
Em 2013, o clube fechou um financiamento de R$ 400 milhões para a construção de seu estádio.
Inicialmente, a operação aconteceria via Banco do Brasil. Por fim, ficou acertado que o empréstimo seria do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Social) e intermediado pela Caixa, por meio do programa ProCopa Arenas, com condições especiais devido ao Mundial de 2014.
O Corinthians deve atualmente para a Caixa Econômica Federal pelo financiamento do Neo Química Arena o valor de R$ 717,8 milhões, de acordo com o último balanço que o ge teve acesso, referente ao mês de março.
O aumento da dívida do clube pela Neo Química Arena se deve aos juros e também uma pequena inadimplência, como foi reconhecido pelo ex-diretor financeiro Rozallah Santoro.
O Corinthians não havia conseguido quitar a parcela do financiamento da Neo Química Arena que venceu em março. Dos cerca de R$ 20 milhões que deveriam ter sido repassados à Caixa Econômica Federal, o clube conseguiu arcar com aproximadamente R$ 17 milhões.
O ge procurou a diretoria alvinegra para atualizar a situação do pagamento, mas não obteve retorno. Uma nova parcela tem vencimento em junho.
Após renegociação com a Caixa, o Corinthians começou a pagar apenas os juros do financiamento no ano passado. O “principal” será amortizado a partir de 2025. O montante é corrigido anualmente pelo CDI (que acompanha a taxa Selic) mais 2%.
Neste ano, o compromisso do Corinthians com a Caixa é do pagamento de quarto parcelas trimestrais, que variam de acordo com a taxa de juros praticada no país. A expectativa é que o clube tenha que desembolsar em torno de R$ 80 milhões para a amortização de juros.
Desde o início do pagamento do valor referente a taxa de juros, o Corinthians já repassou ao banco mais de R$ 200 milhões.
Proposta recente do clube foi recusada
A proposta feita pelo Corinthians foi apresentada ao banco no início de novembro de 2023. A intenção do clube era pagar pouco mais de R$ 531 milhões para zerar os débitos do estádio, oferecendo R$ 356 milhões do acordo com a Hypera Pharma pelo naming rights do estádio.
O restante, cerca de R$ 175 milhões, seria composto pela compra, com 90% de desconto, de dívidas que o banco teria que pagar a terceiros no longo prazo. A base da proposta está nesses títulos, chamados de precatórios (clique e entenda tudo detalhadamente como funcionaria a operação).
Segundo a Caixa, o Corinthians não pode usar o dinheiro vindo da venda dos naming rights por ele pertencer à Arena Fundo de Investimento Imobiliário, responsável pelo pagamento do estádio. Além disso, há um entendimento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de que o montante não pode ser destinado a este fim.
O banco afirmou ainda que os recursos do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) também não servem para a quitação do estádio.
A renegociação corria em paralelo à intenção do Corinthians, ainda sob a gestão de Duilio Monteiro Alves, de oferecer ao mercado 49% da Neo Química Arena. O clube pretendia vender cotas de fundo imobiliário, seja para um investidor de maior peso ou de forma pulverizada na Bolsa de Valores.
Recentemente, o presidente da Caixa disse que aguarda uma nova proposta do Corinthians para a quitação da Arena.
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