Em vias de ser oficializado como novo técnico do Flamengo, Tite terá uma missão pela frente que coincidentemente marca os grandes trabalhos de sua carreira: a defesa . Em quase todos os seus títulos como treinador, comandando Caxias, Grêmio, Internacional, Corinthians e a seleção brasileira, ele teve média inferior a um gol sofrido por jogo.
No primeiro título, com o Caxias no Gauchão de 2000, foram 28 jogos e 28 gols sofridos (média de 1 por duelo). No ano seguinte, foi bicampeão estadual com o Grêmio, levando só 13 gols em 16 partidas (média de 0,8). A pior marca foi na conquista da Copa do Brasil de 2001, também com o Tricolor, quando foi vazado 14 vezes em 12 confrontos (média de 1,1).
Tite voltou a ser campeão sete anos depois, quando levou o Inter ao título da Conmebol Sul-Americana de 2008 sofrendo seis gols em 10 jogos (média de 0,6 por confronto). No ano seguinte, ainda no Colorado, voltou a ganhar o Gauchão sendo vazado 14 vezes em 21 partidas (média de 0,6 por duelo mais uma vez).
No Corinthians foi onde consolidou a fama de montar grandes defesas. No título brasileiro de 2011, Tite sofreu 36 gols em 38 jogos (média de 0,9). No ano seguinte, conquistou a Conmebol Libertadores sendo vazado apenas quatro vezes em 14 partidas (média de 0,2) . No Mundial de Clubes, onde foi campeão em cima do poderoso Chelsea (último título mundial de um time da América do Sul), sequer foi vazado : foram duas vitórias por 1 a 0.
Ainda no comando do Corinthians, o título da Recopa Sul-Americana de 2013 foi conquistado levando um gol em dois jogos. E no Brasileirão de 2015 foi campeão sendo vazado 31 vezes em 38 rodadas (média de 0,8 por partida).
O sucesso levou o treinador à seleção brasileira, e sua fama se fortaleceu ainda mais. Somando as duas Eliminatórias de 2018 e 2022, o Brasil de Tite sofreu apenas oito gols em 29 jogos . No título da Copa América de 2019, foi vazado só uma vez nas seis partidas da campanha. E até nas duas Copas do Mundo que disputou, onde foi eliminado em ambas nas quartas de final, levou sempre três gols em cinco confrontos.
Sistema defensivo falho em 2023
O Flamengo que Tite assumirá apresenta um sistema defensivo inconsistente em 2023. Em 63 partidas até aqui, o Rubro-Negro já sofreu 68 gols (média de 1,07). Se separar os números por competição, somente no Carioca, onde tradicionalmente se enfrenta adversários modestos, o time foi vazado em menor quantidade (13) do que jogos (15).
Na Libertadores foram nove bolas em sua rede em oito confrontos (média de 1,1); no Mundial de Clubes, tomou cinco em dois duelos (média de 2,5); e no Brasileirão até aqui, foram 30 em 25 rodadas (média de 1,2).
E até nos clássicos do ano até aqui, onde o Flamengo vem levando a melhor (são sete vitórias, dois empates e quatro derrotas), o desempenho defensivo é ruim. Nos 13 jogos, foram 15 gols sofridos (média de 1,1 por partida). Tite terá que arregaçar as mangas para colocar as mãos na massa e arrumar a cozinha.
E o ataque?
A especialidade de Tite deve ser sua prioridade, mas o técnico também terá que dar atenção especial ao ataque. O Flamengo já marcou 106 gols até aqui em 63 partidas, o que dá uma média de quase dois por jogo (1,7). Não se trata de um número preocupante, mas os principais centroavantes do time atravessam má fase no segundo semestre.
Pedro é o artilheiro isolado do Flamengo na temporada com 28 gols. Mas fez apenas três de julho em diante, todos de pênalti. O último com bola rolando foi na goleada por 4 a 0 em cima do Aucas, do Equador, no Maracanã, pela fase de grupos da Libertadores, no dia 28 de junho. O camisa 9 amargou um longo período no banco justamente a partir de julho e teve raras chances com Sampaoli, principalmente após ser agredido por Pablo Fernández.
Por sua vez, Gabigol é o segundo maior goleador do time em 2023 com 20 bolas na rede. Mas só quatro delas aconteceram neste segundo semestre. Ele não marca há cinco jogos e fez apenas um nas últimas 11 partidas. Na reta final da passagem de Sampaoli, o camisa 10 foi barrado e foi reserva nos últimos dois jogos do argentino. Contra o Bahia, já com Mário Jorge, iniciou no banco outra vez.
Tite conhece bem os dois. Já convocou ambos para a Seleção e levou até Pedro para a Copa do Mundo do ano passado. Cabe ao treinador a tarefa de recuperar a confiança e mostrar novamente o caminho dos gols a dois dos principais centroavantes do futebol brasileiro.
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