“Alô, mãe? Desculpa incomodar esse horário, mas estou com problema’. Essa foi uma das muitas frases ditas por motoristas flagrados dirigindo embriagados, durante a Operação Lei Seca iniciada no final da noite de sexta-feira (26) e que seguiu madrugada adentro de sábado.
O Campo Grande News acompanhou ao longo de cinco horas o trabalho de agentes do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), que iniciaram a operação na quinta-feira simultaneamente em Campo Grande e Dourados.
No segundo dia de trabalho realizado na Avenida Costa e Silva, bastaram apenas dez minutos para que o primeiro motorista recusasse realizar o teste, alegando que bebeu “durante a tarde’ e não saberia se o resultado seria negativo ou positivo.
Diante da recusa prevista em lei, o motorista assume a infração gravíssima, o que implica em multa no valor de R$ 2.934,70, além da suspensão da habilitação por 12 meses. Nos minutos seguintes, dezenas de carros foram estacionados na calçada reservada para a ação, que ficou lotada.
Caso o veículo não tenha nenhuma pendência, o veículo pode ser retirado por uma pessoa habilitada e que passe pelo teste do bafômetro com resultado negativo. Enquanto a equipe de reportagem acompanhava a ação, um motorista de aplicativo que preferiu não se identificar se aproximava dos condutores e se oferecia para retirar o automóvel, mediante pagamento com valor a combinar.
Entre os muitos motoristas, um idoso aceitou a oferta sob o valor de R$ 200. Mas o Detran alerta que apesar de a prática não ser ilegal, o condutor assume a responsabilidade pelo carro ou pela moto ao longo de todo o percurso até a residência. Além disso, não é possível que uma pessoa retire dois ou mais veículos de uma blitz, uma vez que o nome do responsável fica registrado no sistema.
Havia, também, quem aproveitasse a oportunidade para conseguir mais corridas. Outro motociclista de aplicativo ficou próximo do local, aguardando que alguma das pessoas abordadas e impedidas de saírem com o veículo solicitasse uma corrida.
Para essas pessoas eu fecho o valor de R$ 30. São R$ 3 o quilômetro. Já que quiseram beber, agora tem que aguentar a consequência’, disse o rapaz, sem querer se identificar.
Para o tenente Elson Salinas, comandante do policiamento da Operação Lei Seca, o objetivo da ação é coibir as pessoas que insistem em assumir a direção de automóveis, mesmo após ingerir bebida alcoólica.
A lei tem o objetivo de não ficar punindo, mas de evitar que acidentes e outras situações mais graves venham a acontecer. Muitas vezes a pessoa não se dá conta que ela bebe uma, duas latas de cerveja ou uma garrafa, ela acha que não é tanto e ela pode conduzir. Só que tem um teste que pode ser feito, se a pessoa não se recusar a realizar o teste e passar do nível que está estabelecido em lei, ela infelizmente é conduzida para a delegacia. Agora se ela se recusar, não apresentar nenhum sinal visível de embriaguez, aí nós fazemos o procedimento administrativo’, diz o tenente Elson Salinas, chefe de policiamento.
Já o chefe de fiscalização e patrulhamento viário, Ruben Ajala, destaca que a parceria com o Batalhão da Polícia Militar de Trânsito, iniciada em 2024, seguirá ao longo de todo o ano para reduzir o número de acidentes no Estado, que tem aumentado cada vez mais.
“O foco principal é realizar os testes de etilômetro. Se o condutor apresentar [positivo] no teste o que a gente chama de seletivo, a gente faz toda a checagem do veículo e documental da pessoa também, para combater os outros crimes que acontecem nos nossos dias públicos’, apontou.
Bom exemplo – Para além dos que foram flagrados cometendo a infração, dezenas de outros motoristas mostraram que direção e álcool não combinam e passaram no teste apresentando resultado “negativo’.
Entre eles está o motorista de aplicativo Marcelo Kanaschio, de 36 anos, que relatou a importância da ação para impedir acidentes graves nas vias da cidade. “Ontem eu peguei uma corrida com um passageiro que foi buscar os amigos que estavam em um barzinho. O que mais vejo é passageiro com essa mentalidade ‘prefiro pegar carro de aplicativo do que arriscar’’, disse.
Assim também contou o motorista de aplicativo Aguinaldo André, de 38 anos, que ao passar pela blitz estava com uma passageira no carro. “É viável fazer isso, porque evita que o pessoal dirija embriagado, evita acidentes. Pego muito passageiro que opta por pegar um aplicativo do que dirigir bêbado’.
Número alto – No primeiro dia da Operação, realizado na quinta-feira (25), 125 veículos foram abordados e 25 motoristas autuados por se recusarem a fazer o teste do bafômetro. Além disso, uma pessoa foi presa por apresentar resultado de 0,89mg/L, e sete pessoas flagradas dirigindo sem habilitação. Ao todo, sete veículos foram removidos ao pátio do Detran, por apresentarem alguma irregularidade junto ao órgão. Os dados da operação da madrugada de sábado não foram finalizados até a publicação da reportagem.
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