Três meses depois, o jovem Paulo Henrique, de 22 anos, que perdeu parte do pulmão, tenta recomeçar a vida após finalizar tratamento. Ele perdeu parte do pulmão devido a uma pneumonia grave e um derrame pleural causados pelo uso de cigarro eletrônico.
Segundo a mãe de Paulo, Débora Sampaio, o filho, atualmente, está bem melhor, mas vive uma vida completamente diferente. Ela conta que Paulo ainda enfrenta sequelas da doença, que persistirão por toda a vida.
Devido às complicações, o jovem deverá acompanhar a situação médica por toda a vida. ‘Ele não pode pegar peso, não pode correr, ficou com uma série de limitação no dia a dia. Quando puder trabalhar, só poderá em serviço leve’, afirma Débora.
Dois meses após alta, agora, o jovem tenta recomeçar a vida. Conforme a mãe, o filho se arrepende muito do uso de cigarros eletrônicos e mudou o estilo de vida. ‘Ele se arrepende muito, mas agora ele está tranquilo. Ele está congregando na Igreja Batista Imperial e está até tocando bateria’, conta.
A mudança de vida veio após Paulo quase morrer devido ao uso de cigarros eletrônicos. Antes da doença, ele vivia uma vida normal. As complicações começaram a surgir após apenas quatro meses de uso do narguilé e do ‘pod’, um dos vários tipos de cigarros eletrônicos disponíveis no mercado.
O jovem começou a apresentar sintomas como tosse intensa, ignorados de início. A preocupação veio só quando, durante uma crise de tosse, também veio sangue. Foi quando ele buscou ajuda médica.
Os exames mostraram um quadro de pneumonia bacteriana severa e um derrame pleural. Os médicos identificaram que um de seus pulmões estava com três buracos, enquanto o outro havia necrosado.
O jovem passou por três cirurgias para remover o tecido necrosado. Débora conta o impacto devastador do diagnóstico. ‘Parte do pulmão do meu filho esfarelou na mão da médica. Agora ele tem só um dos pulmões funcionando, mas comprometido. O direito ficou só um pedacinho’.
Paulo ficou semanas internado no Hospital Regional de Campo Grande, em tratamento. No dia 11 de agosto ele recebeu alta, porém, continuou o tratamento em casa. Na época, ele precisava voltar semanalmente ao hospital para acompanhamento. Ele também sentia fortes dores.
Dois meses após alta, atualmente ele está bem melhor, segundo a família, mas ainda enfrenta limitações. ‘Meu filho amava cantar, e de repente não conseguia mais. Faltava ar. O vape causou um estrago, e poderia ser muito pior’, diz Débora.
Débora, que precisou pedir demissão para cuidar do filho, também teve a vida afetada. Na época, devido às dificuldades financeiras, a família precisou criar uma vaquinha para conseguir se manter.
Hoje, ela conta que finalmente pôde voltar a trabalhar. ‘Eu comecei a trabalhar agora. Quando eu receber, vou mandar um dinheirinho para ele, para ajudar, porque ele ainda não pode trabalhar. Só em alguma coisa levinha’.
Uso de ‘vape’ explode entre jovens e acende alerta
Casos graves como o de Paulo não são isolados. A rápida popularização dos cigarros eletrônicos no Brasil preocupa médicos e autoridades de saúde, que alertam para os perigos ocultos nesses dispositivos.
Ao contrário da promessa de serem alternativas ‘mais saudáveis’ ao cigarro, os vapes contêm concentrações elevadas de nicotina — até 57 vezes mais do que um cigarro comum. Além disso, metais como ferro e níquel, assim como outros produtos tóxicos, têm sido identificados nos líquidos utilizados, e estudos mostram que essas substâncias podem ser altamente cancerígenas.
Segundo Vera Borges, pneumologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a rapidez com que os usuários de vape adoecem assusta. ‘Pessoas jovens com cinco anos de uso contínuo podem desenvolver DPOC [doença pulmonar obstrutiva crônica], uma doença extremamente limitante. Em um fumante comum, essa doença pode aparecer depois de trinta anos de uso’, afirma.
A epidemia do uso de vape entre os jovens acendeu o alerta em órgãos de saúde. No Brasil, a comercialização de cigarros eletrônicos é proibida desde 2009. No entanto, a presença de influenciadores digitais que promovem o uso em redes sociais impulsiona a sua disseminação, tornando-os um item popular entre adolescentes e jovens adultos.
Dados do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) revelam que um em cada quatro jovens entre 18 e 24 anos utilizou ‘vape’ em 2023, e que cerca de 12% dos usuários são atraídos pela “moda”.
A proposta de regulamentar o uso dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) tramita no Senado, mas enfrenta resistência. Oitenta entidades médicas, incluindo a Anvisa e o Ministério da Saúde, são contrárias à medida, argumentando que a liberação tornaria mais difícil o controle e combate dos riscos associados.
Até o momento, faltam mapeamentos abrangentes do Ministério da Saúde para medir o impacto dos vapes, o que dificulta a criação de políticas eficazes de enfrentamento.
TOP Mídia News/Felipe Dias