O colombiano Emerson Rivaldo Rodríguez, 24 anos, está no Vasco há cerca de dois meses, mas sua relação com o futebol brasileiro vem de muito antes. É algo umbilical. Seu nome já diz tudo: o Emerson é em homenagem ao volante ex-Roma e Milan que defendeu a Seleção em duas Copas do Mundo, e o Rivaldo é aquele mesmo que fez chover em 2002.
Emerson foi titular nas últimas três partidas do Vasco e está relacionado para o duelo da noite desta quarta-feira, contra o Athletico, jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil. A bola rola na Ligga Arena às 21h30 (de Brasília).
– Não é segredo que minha família é fã do Brasil pelo nome que tenho. Minha família torce muito para o Brasil e todos meus primos, irmãos, têm nome de brasileiros – contou Emerson Rodríguez em sua apresentação, em julho.
Ele não exagerou quando disse “todos”.
William Rodríguez, pai de Emerson, e os irmãos cresceram admirados com a beleza apresentada pelo futebol brasileiro e foram arrebatados pelas seleções que disputaram as Copas de 1982 e 1986. “Nas ruas do bairro, a gente dizia que era brasileiro quando jogava bola, imitava o futebol daí”, recordou em conversa com a reportagem do ge.
O amor pelo Brasil era tanto que ele e os irmãos estabeleceram um pacto: todos os homens nascidos na família dali em diante levariam o nome de algum jogador brasileiro, independentemente da época. Os “Rodriguez” já estão na segunda geração seguindo à risca o que foi combinado.
Alguns dos nomes em homenagem a jogadores brasileiros na família:
Éder Aleyson Rodríguez, irmão de EmersonCarlos Denílson Rodríguez, irmãoAldair Rodríguez, irmãoJavier Romário Rodríguez, primoRicardo Rodríguez, primo (homenagem ao Kaká)Neymar Rodríguez, primoThiago Viera, primo (homenagem ao Thiago Silva)Éder Matheus Rodríguez, sobrinhoRoberto Viera, primo (homenagem ao Roberto Dinamite)Ronaldo Rodríguez, sobrinhoEdgar Falcão Rodríguez, primoMaicon Viera, sobrinho
“Desde pequenos nós admiramos o futebol de vocês, do Brasil”, afirmou William.
– Nós somos brasileiros. Quando joga contra a Colômbia, nós aqui em casa torcemos pelo Brasil, fazemos festa como em um estádio. Somos brasileiros, estamos sofrendo com o momento da seleção – completou.
O pai do atacante do Vasco interrompeu a conversa com o ge mais de uma vez para dizer que havia se lembrado de mais um membro da família com nome de jogador brasileiro: “Tem o Romário, que é primo do Emerson, estava me esquecendo”. A única certeza ao fim da entrevista é que ele não se lembrou de todos.
William contou que uma vez brigou feio com a filha quando ela insinuou que não daria continuidade ao pacto porque não queria colocar nomes de jogadores brasileiros nos filhos. Ele perdeu essa queda de braço, mas não ficou chateado por isso.
“Ele está com outro semblante”
Emerson Rodríguez está vivendo o sonho dele e de toda a família com a camisa do Vasco. Ele até o momento disputou oito partidas e marcou um gol. Está emprestado pelo Inter Miami, dos Estados Unidos, até junho do ano que vem com opção de compra por valor fixado no contrato.
“Ele vai brigar para que o comprem, vai fazer todo o possível para aproveitar essa oportunidade”, garantiu o pai.
– Alguns meses atrás, no Millonarios, ele estava triste, desanimado. Agora está contente e com outro semblante. Nós criamos esse ambiente desde pequeno, dizendo que o nosso futebol é do Brasil. Acho que a palavra tem poder – completou.
Emerson Rodríguez nasceu em uma região pobre de Buenaventura, distrito a cerca de 115 quilômetros de distância de Cali. É de uma família “futeboleira”, como define o pai. Mas ele é o primeiro dos Rodríguez a se tornar jogador profissional
O atacante arisco, que aposta nos dribles e diz que se sente confortável no confronto um contra um, foi formado nas categorias de base do Millonarios e surgiu no time principal de fato a partir de 2020, sob o comando do técnico Alberto Gamero. O início foi tão bom que o atacante alcançou sua primeira e até o momento única convocação para a seleção colombiana no ano seguinte, com Reinaldo Rueda.
Em 2022, teve 80% dos seus direitos adquiridos pelo Inter Miami. O pai não gostou do negócio e culpa guarda rusgas do antigo empresário.
– Todo mundo fica alegre, contente por jogar em uma equipe internacional, seja pelo lado econômico, seja pela vitrine. Nós tínhamos muitas expectativas, mas eu não estava muito de acordo (com a ida para Miami) porque eu disse ao representante que não queria que ele fosse para esse mercado, não tem o nível que tem no Brasil, por exemplo. Mas, olhando o dinheiro, ele levou para lá. Para mim foi muito desagradável – contou.
– Nós não estamos nisso pelo dinheiro.
Na primeira temporada pelo Inter Miami, Emerson atuou em 25 partidas, mas apenas quatro delas como titular. Em seguida foi emprestado ao Santos Laguna, do México. E, como estava fora dos planos da equipe dos Estados Unidos no início deste ano, regressou ao Millonarios por empréstimo – foi dele, inclusive, a assistência para o gol da equipe colombiana no empate em 1 a 1 com o Flamengo, pela fase de grupos da Libertadores (veja abaixo).
Com o dinheiro do futebol, Emerson comprou uma casa em Cali e tirou os pais de Buenaventura. Eles estavam em casa quando receberam a notícia de que o Vasco tinha interesse em contratá-lo. Emerson foi representado nas negociações por outra pessoa, dessa vez uma empresária, e tudo correu correu rápido. O atacante estava doido para vir para o Brasil defender o Vasco.
– Minha família me colocou o nome de jogador brasileiro porque gostam do jogo bonito, do futebol, e estão felizes com o Vasco por me abrirem as portas – disse na apresentação.
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