Líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE) afirma que a iniciativa para alterar trechos da Lei da Ficha Limpa visando tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro novamente elegível é “casuísta’ e deveria provocar forte reação popular. A movimentação, liderada por parlamentares da extrema-direita, pretende reduzir o período de inelegibilidade de políticos condenados, abrindo caminho para a volta de Bolsonaro às urnas ainda em 2026.
Atualmente, esse intervalo é de oito anos, mas os deputados tentam encurtá-lo para apenas dois. Bolsonaro foi declarado inelegível pela Justiça Eleitoral após abusar de poder político ao reunir embaixadores, às vésperas das eleições de 2022, para espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral. “Se for amigo, pode cometer crime, mas se for inimigo, não pode?’, ironiza Carvalho em entrevista a CartaCapital. “Esse é um debate teratológico que já deveria ter sido rechaçado”
A articulação ocorre em paralelo à estagnação da proposta de anistia aos golpistas de 8 de Janeiro, outra pauta de interesse bolsonarista.
“Vejamos, a lei não é para todos? Essa vontade política não pode prosperar, pois a sociedade não pode conviver com regras moldadas para atender interesses de uma pessoa, em um determinado momento’, acrescenta o senador. “Até porque não há como negar que houve uma tentativa de golpe, com planejamento de assassinato do presidente eleito”
Carvalho avalia ainda que a chegada de Davi Alcolumbre (União-AP) à presidência do Senado não representará um obstáculo para o governo Lula, já que o parlamentar do Amapá é “comprometido com as pautas de interesse’ do Planalto.
Em relação às emendas parlamentares, o senador defende um acordo entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso para solucionar o impasse e estima que um entendimento possa ser alcançado até o fim de fevereiro. “Precisamos resolver essa questão com urgência’, afirma, destacando a necessidade de um procedimento que garanta transparência na indicação, processamento e pagamento das emendas.
Aos 56 anos, Rogério Carvalho cumpre seu primeiro mandato como senador, após ter sido deputado estadual, deputado federal e secretário de Saúde em Sergipe. Em 2020, já havia liderado a bancada petista no Senado durante a primeira gestão de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na presidência da Casa.
Questionado sobre o recente tombo na popularidade do governo Lula, o senador afirma que o terceiro mandato do petista tem muito a mostrar, mas considera que falhas na comunicação dificultam a percepção desses avanços pela população.
“O governo ainda não conseguiu alcançar os brasileiros de forma clara e direta, demonstrando o que foi feito ao longo dos dois últimos anos e como isso impacta a vida das pessoas’, observa. O principal desafio da Secretaria de Comunicação, agora chefiada pelo publicitário Sidônio Palmeira, seria “massificar, tornar mais claras e compreensíveis as políticas públicas’ colocadas em prática.