Servir e proteger. Mas muito, além disso, atuar energicamente em situações que lhe exige preparo e muito domínio da situação. Pelo menos é isso que dois sargentos da Polícia Militar de Aquidauana passaram na noite do último sábado (21), onde atuaram energicamente no resgate do advogado Elcilande Serafim de Souza, de 58 anos, que caiu no rio Aquidauana, após um acidente na Ponte Nova, em Aquidauana – a 140 quilômetros de Campo Grande.
O advogado chegou a ser levado para atendimento médico na unidade hospitalar da cidade, contudo, em virtude dos ferimentos e do veículo ter ficado submerso, ele não resistiu e morreu horas depois do resgate. Para o sargento Alisson Manoel da Silva Santos, de 35 anos, houve o esforço máximo para fazer o serviço bem feito, mas existem outros fatores.
‘Tentamos ao máximo fazer o serviço bem feito, mas não depende da gente, tem outros fatores. O empenho da população foi sensacional, mas infelizmente não teve como tirar com vida, tem fatores que não depende da gente, a gente fica um pouco abalado’, disse ao TopMídiaNews.
Em conversa com a reportagem, o sargento explicou que estava indo atender uma ocorrência de violência doméstica, quando a central de operação designou que eles fossem verificar um acidente de trânsito, onde um veículo tinha permanecido na ponte, mas o outro havia caído no rio.
Alisson relatou que o primeiro ‘serviço’ a ser feito foi liberar a pista e garantir o isolamento e a segurança de quem estava pela área, já que haviam mais de 50 pessoas somente naquele trecho da ponte que liga a cidade de Aquidauana e Anastácio. Enquanto o companheiro de viatura permaneceu na ponte, o sargento desceu para ajudar no resgate – nisso, já estava outro sargento, Tiago Echeverria Couto, de 40 anos, que estava à paisana e atuou ativamente desde os primeiros momentos do resgate.
Tiago comentou que estava passando pelo local e viu uma aglomeração próximo à marquise danificada da ponte e entendendo que poderia ser um acidente, logo desceu para as margens do rio, onde percebeu que algumas pessoas estavam tentando fazer algo no veículo, onde todos decidiram virar o carro.
‘Logo surgiu a vítima [Elcilande] e vi que estava sem o cinto de segurança e o puxei para submergir seu corpo da água e as demais pessoas tentaram abrir a porta danificada’, comentou Couto. Os policiais frisaram a questão do volante ter entortado e dificultar a saída do motorista, inclusive, prensando a perna do advogado, mas com auxílio de demais testemunhas, conseguiram retirá-lo após 10 minutos de intenso trabalho, como contou o sargento Alisson.
Enquanto Tiago seguia para as margens do rio, Alisson foi informado por uma mulher que a vítima havia passado o dia com uma criança e rapidamente ele retornou ao veículo para verificar se não havia uma possível segunda vítima, mas naquele momento do acidente, apenas o advogado estava na caminhonete. Já o outro sargento, notou que Elcilande estava sem pulso e com sinais de parada cardiorrespiratória.
‘Comecei a fazer a manobra de RCP até a chegada dos socorristas. Toda a ação foi executada graças ao empenho dos rapazes que se encontravam pelo local, bem como o policial militar Alisson e outro sargento do Corpo de Bombeiros, que entrou na água e também ajudou’, completou Echeverria.
E acrescentou que lamentou demais saber que o advogado não resistiu. ‘Infelizmente perdemos o moço, mas tentamos, da melhor maneira possível, ajudá-lo. A natureza do acidente foi severa demais’. O sentimento de tristeza também foi compartilhado pelo sargento Alisson, que entendeu que há um misto de sensações em cada momento da ocorrência.
‘Alegria no momento de tirar e tristeza na hora de receber a notícia que não resistiu’, disse Santos, que está há 16 anos na corporação e essa foi a segunda vez que ele esteve envolvido em um resgate envolvendo rio. No ano de 2013, ele salvou um rapaz que pulou da ponte e foi encontrado no rio Aquidauana, ainda com vida.
Tiago Echeverria ainda completa dizendo que com o tempo, o policial ‘vai administrando’ as emoções, mas nestes casos, quando a vítima não sobrevive, o impacto é grande.
‘Como profissional da segurança, já presenciei várias situações de teor emocional danoso. É difícil, principalmente quando a gente não consegue ter sucesso, principalmente quando se trata da perda da vida. Com o tempo você [o policial] vai administrando suas emoções, mas é difícil. O impacto negativo é grande’, finalizou.
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