Zé Rafael está pronto para estrear pelo Santos e feliz de não sentir mais as dores insuportáveis que o limitaram no ano passado.
Apresentado nesta sexta-feira na Vila Belmiro com a camisa 6, o volante revelou que pensou em parar de jogar por causa do problema na coluna, disse estar recuperado para retomar a sua forma e defendeu que o time tem condições de estar em uma posição melhor no Campeonato Brasileiro.
Quando voltei neste ano, eu já tinha conversado com os médicos. Falei que, se eu tivesse que passar outro ano com as mesmas dores, não continuaria, iria parar de jogar este ano, porque era uma dor insuportável. Apesar de esconder a dor, fazer mesmo sofrendo, era algo que me limitava muito. Não era só durante treinos e jogos. Eu convivia com a dor, eram 24 horas com dor. Isso mexeu com meu psicológico — confessou Zé Rafael.
Agora, depois da cirurgia, é vida nova. É buscar a condição física, técnica e mental para voltar a fazer o que eu mais gosto da maneira mais excelente possível.
O volante tinha uma espondilolistese. Trata-se de um desalinhamento entre duas vértebras, que ocasiona dor intensa e limitação funcional.
Iniciei esse ano no Palmeiras e, quando teve a oportunidade de sair, vi como bom desafio. Sabia que aqui seria bom lugar para recomeçar. O clube me proporcionou essa oportunidade. Estou muito feliz de estar aqui. Foi uma recuperação muito boa — comentou o atleta.
— Agora, estou tentando voltar à minha forma. É óbvio que isso demora um pouco de tempo, não é tão natural quanto a gente gostaria. Mas estou feliz e satisfeito. Nossa equipe médica e técnica também está feliz com o resultado.
Já treinando com o elenco nesta semana, Zé Rafael deve ser relacionado para a partida contra o Ceará, válida pela oitava rodada do Brasileirão, na próxima segunda-feira. Curiosamente, o retorno aos gramados poderá ocorrer no Allianz Parque, estádio do Palmeiras, time pelo qual o volante teve uma passagem vitoriosa de seis temporadas.
— Depois de tanto tempo fora, voltar e ser lá talvez o primeiro jogo pelo Santos. Isso faz parte. É apenas algo que bateu. Estou preparado para jogar. Espero que seja em breve. Não sei se será segunda ou na próxima semana, mas me estou preparando para que aconteça o mais rápido possível.
Ele garantiu que, apesar das dores que enfrentou e da cirurgia que fez, continuará tendo as mesmas características que o fizeram brilhar no Palmeiras.
— Essa lesão me atrapalhou demais durante o ano, me impossibilitou de muita coisa e diminuiu meu nível. Foi o ano que menos joguei, em tempo e jogos. Mas sinto que ficou para trás. Cirurgia foi recomeço. Hoje estou 100% sem dor. Agora é a parte de recondicionamento, de parte técnica, de parte tática. Foram quatro ou cinco meses fora dos gramados e isso faz diferença enorme.
— Obviamente que necessita tempo de paciência e recondicionamento, mas eu acredito que isso não será problema. Me dedico nos treinos para estar em alto nível. E não vai ser diferente. Não é a idade ou a cirurgia que vão fazer eu perder minhas características. Pode ter certeza que eu vou dar o melhor que eu posso para estar da melhor forma possível, ajudando o Santos.
Zé Rafael disse que está à disposição para fazer diferentes funções, mas que se sente mais confortável em atuar como primeiro ou segundo volante.
— Eu posso fazer primeiro homem e segundo e, com um pouco menos de frequência, talvez o terceiro homem, como era no Bahia muitos anos atrás. Mas eu acredito que eu deva ser mais utilizado de primeiro ou segundo homem mesmo, que é onde eu já estou mais habituado e preparado para fazer.
Embora tenha reiterado por diversas na entrevista coletiva que a retomada será gradual, já que passou por uma cirurgia inédita no futebol e está há cinco meses sem jogar, Zé Rafael chegou ao Santos em um momento de necessidade por reforços no sistema defensivo. O time tem quatro pontos no Brasileirão e está na penúltima colocação.
— Eu confesso que seria melhor voltar com o time em uma condição melhor na tabela e jogando de maneira mais confiante. Mas faz parte do processo. Não emplacamos ainda uma sequência de vitórias, que é o que falta para retomar a confiança. Sabemos o quando isso é importante, o atleta e a equipe estarem confiantes. Precisamos de alguns resultados positivos para que isso aconteça. Eu entrando nessa disputa por vaga pelo meio-campo, é difícil chegar e assumir logo, porque é muito tempo fora.
O volante defendeu que o Santos tem condições de sair da situação dramática em que se encontra.
— Para mim, nossa equipe tem grandes jogadores, com qualidade e capacitados para jogar em alto nível. O que falta é acreditar em si próprio e no time. Isso tem que partir de cada um. Não adianta trazer um monte de cara que ganharam títulos por onde passaram, se alguns que ainda não tiveram essa oportunidade não mudarem também a sua mentalidade. Convivendo com o elenco e vivenciando o dia a dia, eu acredito que eles têm isso. São caras competitivos, que treinam forte e se preparam. É questão de confiança. A equipe não está madura suficiente e confiante para executar o melhor. Isso é um processo de evolução. Mas estamos nos preparando para dar a volta por cima e buscar grandes resultados.
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Outras respostas da entrevista coletiva
Recuperação do time para voltar a conquistar títulos
— Nossa equipe tem bons jogadores, dedicados e que trabalham diariamente para alcançar os títulos. Mas às vezes esquecemos o quanto competitivo é o nosso futebol e que só uma equipe ganha por ano. É muito difícil ganhar e construir o que foi construído anos atrás. Nos preparamos para isso, mas só tem um vencedor por ano. Sabemos que será difícil. Temos que mudar mentalidade e forma de trabalhar, se adequar e fazer o que os campeões fazem. Abrir mão de algumas coisas, porque requer sacrifício diferente. Eu acredito que a nossa equipe está disposta a pagar, mas falta um pouquinho para que essa chave mude. Estamos em um processo de evolução. Em breve vamos voltar a colher frutos e a torcida santista voltará a sorrir e comemorar títulos.
Chegada em momento de reconstrução do clube
— Quando eu aceitei vir, já sabia que era um projeto mais difícil, justamente pelo clube estar passando por uma reestruturação. Vindo da Série B, o ano seguinte é sempre um pouco mais pesado. Porque muda muito a característica de jogo e dos atletas, o nível de jogo é muito maior na Série A. Eu aceitei o desafio sabendo de tudo isso. Eu e meus companheiros estamos nos preparando. Desde que eu cheguei, eu vi que é um grupo que trabalha muito. Não estamos no lugar onde merecemos, mas é continuar trabalhando para a fase ruim passar. Isso é futebol, faz parte, temos que continuar trabalhando e evoluindo para que esta fase ruim passe. Vou tentar ajudar da melhor forma que eu puder, com a experiência, com meu estilo de jogo, dentro e fora de campo, da maneira que eu puder ajudar meus companheiros. Todos estão remando para o mesmo lado. É um ano difícil. Se não der 110%, as coisas não vão fluir como a gente espera. Então, a gente tem se preparado dessa forma, é assim que a gente está encarando jogo a jogo até o final do ano.
Receio de fazer o retorno aos jogos em gramado sintético
— Com relação ao campo, joguei por vários anos lá. Não posso dizer que isso é problema. Talvez seja o primeiro jogo da volta. Se eu acabar jogando, posso sentir um pouco, porque quem não está adaptado a jogar com frequência no Allianz acaba sofrendo. Vimos isso durante vários jogos, equipes que iam lá e os jogadores acabavam se lesionando. Mas acredito que não acontecerá comigo e espero que não aconteça com nenhum dos meus companheiros.
Participação de Neymar na negociação para trazê-lo ao Santos
— Posso dizer que já tinha aceitado o convite do Santos antes mesmo de saber que o Neymar estava vindo. Só fui apresentado e ficaram sabendo que eu viria depois que ele chegou. Ele veio para o CT, eu já estava trabalhando há alguns dias. Fico feliz que ele veio depois e espero que ele possa se recuperar logo para voltar e ajudar a equipe. Ele é uma referência e fará a diferença dentro de campo. Contamos com isso.
Apoio da comissão técnica na recuperação
— Influenciou de certa forma, a equipe do professor Xavier chegou recentemente, na última semana. Eu já tinha entrado no período de transição, já estava numa parte avançada da recuperação. Eles demostraram muito interesse em saber como eu estava. Fico feliz por isso, porque, depois de tanto tempo fora, é legal quando uma comissão nova chega e mostra interesse. Isso não quer dizer que eu vou jogar ou que eu vou ser titular todos os jogos. Pelo menos mostrar que eles sabem como foi o problema e se importam com a resolução dele. Eles me apoiam e me dão diariamente a condição de mostrar o que eu estou sentindo, treino após treino. É uma cirurgia nova, pela qual nenhum atleta do futebol passou, isso requer mais cuidado. Estou me sentindo muito bem e me preparando para antecipar a maior parte dos processos. Espero que possa corresponder e ajudar o professor Xavier da maneira que ele espera.
Protagonismo no Santos e orientação aos Meninos da Vila
— Eu acredito que sim. Obviamente ser protagonista faz parte do futebol. Um dia você é, outro dia você deixa de ser. Vim para o Santos com a intenção de ajudar, independente se estiver resolvendo jogo, jogando muito ou pouco. Eu acredito que eu posso ajudar não só a nossa equipe, mas também esses meninos mais novos, que precisam às vezes até mesmo de carinho para ter a evolução que se espera. Antigamente tinha que chegar e estar pronto, mas hoje sentimos que podemos ajudar a evoluir de maneira gradativa. Temos bons meninos, JP, Bontempo, Hyan, Xavier, Luca. São todos meninos que têm treinado diariamente para evoluir. Não podemos carregar eles com muita pressão. Nós, que somos mais velhos, servimos para isso também. Tirar esse peso para que eles evoluam. Posso ajudar dessa forma e espero que consiga.
Número 6 na camisa
— O número, na verdade, não foram muitas opções que sobraram (risos). Mas estou feliz, é um novo número, em que a minha função, hoje em dia, mudou um pouco. Na Europa, na maioria dos times o camisa 6 é aqui o nosso número 5. Foi uma coincidência, o número que sobrou, a última função que eu fiz. Não tem porque inventar, não pegarei número alto. Vou pegar um número legal e que faça sentido pra mim.
Zé Rafael
Revelado pelo Coritiba, Zé Rafael passou por Novo Hamburgo e Londrina antes de chegar ao Bahia, no qual se destacou. Em duas temporadas na equipe de Salvador, fez 128 jogos, com 18 gols e nove assistências. Ele passou seis temporadas no Palmeiras, com o qual conquistou 11 títulos.
O volante chegou como o 11º reforço do Santos na temporada, anunciado em fevereiro, depois de ter acertado com o clube no fim de janeiro.