Moradores do bairro Novo Esteio, em Esteio, uma das localidades mais afetadas pelas enchentes de maio, se uniram e formaram uma comissão que têm se mobilizado, realizado reuniões e encontros a fim de discutir a situação das famílias que ainda permanecem no local. Desde a cheia do Rio do Sinos, que invadiu ruas, avenidas e moradias, atingindo mais de 1,5 metro das residências e levando embora lembranças e recordações, os moradores têm cobrado das autoridades responsáveis ações mais eficazes para evitar que novos alagamentos causados pelas mudanças climáticas não venham a afetar as famílias de forma tão grave. Na semana da Expointer, os moradores chegaram a realizar um protesto pacífico em frente ao portão principal para chamar atenção dos visitantes.
Uma das lideranças do local que tem atuado como porta-voz dos atingidos do bairro, a advogada Mariza Iracet recorda que a situação da enchente foi muito triste. “As pessoas perderam móveis, documentos, fotografias em meio a água e o lodo. Perderam recordações de uma vida toda. Na minha casa, a água chegou a 1,8m e permaneceu assim por 20 dias. Foi assustador.” Mariza diz que o debate sobre os impactos causados pela enchente é importante, mas falar sobre as obras que propõem soluções é ainda mais. “Queremos a construção de casas de bombas, porque estamos cercados pela BR 448, e também de um dique ou de uma bacia de contenção. Seguimos invisíveis às autoridades e isso é um absurdo. Muitas pessoas ainda não conseguiram se refazer. Tem idosos dormindo no chão porque os benefícios liberados pelos governos não foram suficientes para quem perdeu tudo. As pessoas perderam a dignidade.”
Segundo a advogada, a inundação era uma tragédia anunciada, “pois havia estudos que evidenciavam que isso iria acontecer, caso os governos não implementassem políticas públicas capazes de evitar ou mitigar os reflexos das fortes chuvas.” Além das obras para reforçar o sistema de contenção das cheias, a comunidade do Novo Esteio ainda pleiteia a construção de uma cozinha e de uma lavanderia comunitárias, um banco de alimentos e de materiais de construção. “Precisamos de pontos estratégicos caso eventos como este venham se repetir.” Mariza ainda questiona por que o bairro não está inserido nas ações do Programa Esteio Resiliente.
A Prefeitura de Esteio estima que as enchentes de maio afetaram diretamente cerca de 13 mil pessoas em toda cidade, especialmente nos bairros Novo Esteio, Vila Osório, Três Portos, São José, Jardim das Figueiras, Três Marias e São Sebastião. Em nota, informou que “o Programa Esteio Resiliente contempla a realização dos projetos executivos para o sistema de proteção contra cheias do Rio dos Sinos, com casas de bombas e diques auxiliares junto à BR-448. Desde 2017 a Prefeitura atua em cooperação com a Metroplan na elaboração dos estudos que visam a implantação deste sistema. Atualmente o processo encontra-se em fase de licenciamento ambiental. Com o anúncio de recursos do Governo Federal para esta finalidade, a expectativa é de que a licitação para implantação do sistema ocorra no primeiro semestre de 2025.”