A agência de classificação de risco Moody’s elevou nesta terça-feira (1º) a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, com perspectiva positiva. Agora, o país está a um passo do chamado grau de investimento, um selo de bom pagador concedido pelas agências, que assegura aos investidores um menor risco de calotes.
A nova classificação ainda indica um “grau especulativo” — o que, segundo as agências de risco, aponta que o Brasil está menos vulnerável ao risco no curto prazo, mas segue enfrentando incertezas em relação a condições financeiras e econômicas adversas. (entenda mais abaixo)
Segundo a Moody’s, a elevação da nota brasileira reflete a melhora significativa no crédito do país, incluindo um crescimento mais robusto do Produto Interno Bruto (PIB) e um histórico crescente de reformas econômicas e fiscais.
Confira abaixo, em três pontos, o que disse a Moody’s.
- Crescimento econômico
- Arcabouço fiscal e contas públicas
- O que pode levar o país ao grau de investimento
Crescimento econômico
Ao justificar a elevação do rating soberano do Brasil, a agência informou ter revisado sua projeção de crescimento do PIB do país para 2,5%.
Também passou a prever, no médio prazo, um crescimento econômico “muito mais sólido” em comparação com anos anteriores à pandemia, “resultado, em parte, das reformas estruturais implementadas ao longo de sucessivas administrações”.
“Nos próximos anos, antecipamos que o crescimento continuará abrangente, com a demanda interna impulsionada por um mercado de trabalho relativamente forte – em comparação com o passado do Brasil – e por salários reais mais altos”, afirmou.
Na avaliação da agência, o crescimento do PIB também se mostrou mais forte e resiliente em relação às altas taxas de juros e às severas enchentes que atingiram o Brasil neste ano.
“Além disso, o desempenho fiscal e o orçamento do governo apresentado para o próximo ano permaneceram consistentes com as metas fiscais.”
Ainda para a Moody’s, a agenda de transição energética do governo é outro fator que pode acrescentar potencial de crescimento no médio a longo prazo. O tema passa, entre outros pontos, pela atração de investimentos privados para projetos de energia limpa.
No documento divulgado nesta terça, a agência também citou os seguintes avanços “em sucessivos governos”:
- o fortalecimento da independência do Banco Central;
- a melhoria na governança das empresas estatais;
- a digitalização financeira;
- e a reforma trabalhista.
Arcabouço fiscal e contas públicas
De acordo com a agência, a decisão de manter a nota do Brasil com perspectiva positiva reflete a possibilidade de que o crescimento econômico e o cumprimento do arcabouço fiscal ajudem a reduzir a incerteza em torno da trajetória da dívida do Brasil.
Na visão da Moody’s, essa combinação aumentaria a credibilidade da política fiscal e “apoiaria o fortalecimento institucional”.
“Um custo mais baixo da dívida teria impacto positivo na trajetória da dívida pública do Brasil, especialmente se combinado com um crescimento mais robusto do que o que esperamos atualmente”, afirmou.
Ainda em relação às contas públicas, a Moody’s disse esperar uma melhora gradual nos resultados primários do governo, em linha com as metas fiscais para os próximos três anos.
A perspectiva, no entanto, não afasta os receios da agência de que um aumento de gastos estruturais e despesas obrigatórias — como seguridade social, programas de assistência social, saúde e educação — coloque em risco o alcance das metas fiscais.
“Essas limitações afetam a credibilidade da política fiscal e complicam os esforços em curso para cumprir as metas fiscais, o que compromete a eficácia das políticas e contribui para prêmios de risco relativamente altos”, alertou.
Sobre o tema, o Ministério da Fazenda afirmou, em comunicado publicado após a decisão da agência, que mantém seu compromisso “com a melhoria contínua dos resultados fiscais, empreendendo esforços para aumentar a arrecadação e conter gastos”.
“Além de estabilizar a relação dívida/PIB, um balanço fiscal mais robusto contribuirá para a redução das taxas de juros e a melhoria das condições de crédito, criando um ambiente favorável à expansão dos investimentos públicos e privados”, afirmou a pasta.
A Moody’s também citou a reforma tributária, a classificando como “uma reforma estrutural notável que irá melhorar o ambiente de negócios e a alocação de recursos, contribuindo para o potencial de crescimento a longo prazo”.
O que pode levar o país ao grau de investimento
Em relatório, a Moody’s também apontou que a adoção de medidas fiscais estruturais ajudaria o Brasil a conquistar o grau de investimento.
“Isso facilitaria a redução da dívida em caso de ambiente econômico favorável e limitaria seu aumento em uma mudança de ciclo. Além disso, indicaria uma maior eficácia nas políticas, apoiando nossa avaliação da força institucional e da resiliência a choques.”
Segundo a Moody’s, a atual perspectiva positiva — que torna improvável um rebaixamento da nota brasileira no curto prazo — pode mudar para “estável” caso haja um “enfraquecimento do compromisso ou da capacidade do país de implementar a consolidação fiscal”.
“O aumento contínuo nos custos de financiamento do governo também enfraqueceria a solvência do [rating] soberano. Um retorno a um crescimento do PIB persistentemente baixo representaria um desenvolvimento negativo para o crédito, afetando adversamente o perfil de crédito do Brasil”, concluiu.
Entenda as notas de crédito do Brasil
Mesmo com a mudança anunciada nesta terça, o Brasil segue sem o chamado “selo de bom pagador”, classificação que sinaliza menor risco de calote para quem investe em títulos do Tesouro Nacional. (saiba mais sobre as notas de crédito abaixo)
Em maio, a Moody’s havia anunciado a manutenção da nota de crédito do Brasil em nível Ba2 e a mudança da perspectiva da avaliação de “estável” para “positiva” — sinalizando uma possível elevação da nota no futuro.
A Fitch Ratings e a Standard & Poor’s (S&P) ainda mantêm a classificação para o Brasil com a nota de crédito BB, com perspectiva “estável”, o que coloca o país em um grau especulativo, mas a dois passos do grau de investimento.
g1