OCopom(Comitê de Política Monetária) doBanco Centralinterrompeu nesta quarta-feira (19) o ciclo de cortes dejurose manteve a taxa básica, aSelic, em 10,5% ao ano.
A decisão foi tomada de forma unânime, com o voto do diretor Gabriel Galípolo, cotado para ser o próximo presidente da instituição, alinhado com o do atual chefe do BC,Roberto Campos Neto. Mesmosob pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), houve convergência no colegiado, inclusive entre os indicados pelo presidente.
‘O cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas [em relação à meta] demandam maior cautela’, justificou o Copom em comunicado.
O comitê afirmou também que se manterá ‘vigilante’ e que ‘eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta’.
Ao longo do ciclo de flexibilização de juros, iniciado em agosto do ano passado, foram seis reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto. A taxa básica se mantém agora no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.
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Com o breque nos cortes, o colegiado do BC ignorou a pressão feita pelo governo Lula às vésperas do encontro decisivo e agiu em linha com a expectativa do mercado financeiro.
Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a pausa da Selic no atual patamar de 10,5% ao ano era a projeção quase unânime dos economistas –apenas dois dos 33 analistas consultados esperavam um novo corte de 0,25 ponto percentual.
Mas as atenções dos investidores não se restringiam aos números. O mercado se voltou principalmente ao placar de votos dos membros do Copom.
Isso porque atensão entre governo e BC voltou a crescerdepois de Lula afirmar que Campos Neto ‘tem lado político’ e que ‘trabalha para prejudicar o país’. Membros do governo e aliados também colocaram o presidente do BC na mira e aumentaram a artilharia em defesa da redução dos juros.
A partir do posicionamento dos quatro indicados pelo governo Lula –em especial de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária–, dessa vez sem divergências, os economistas buscam sinais sobre a atuação futura do BC.
Em 2025, a gestão petista terá maioria no Copom, com sete dos nove membros do BC indicados por Lula, incluindo o presidente.
Até o fim do ano, quando termina o mandato do atual chefe da autoridade monetária, o Copom tem mais quatro rodadas de reuniões programadas –em 30 e 31 de julho, 17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para 2024 cresceram de 3,8% para 4% e, para 2025, subiram de 3,3% para 3,4%. O grupo voltou a incluir um cenário alternativo, no qual a Selic fica inalterada ‘ao longo do horizonte relevante’ (que corresponde ao ano de 2025). Nesse quadro, a projeção de inflação do próximo ano cairia para 3,1%.
Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia, as decisões do BC miram hoje o alvo fixado para 2025.
A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
A pausa nos cortes da Selic veio na sequência de uma desaceleração do ritmo de queda da taxa básica em votação dividida, com oposição de todos os indicados por Lula, no mês passado.
Em maio, prevaleceu a decisão da maioria (5 a 4) –puxada por Campos Neto– pelaredução de 0,25 ponto percentual, contrariando a sinalização dada pelo próprio Copom no encontro anterior de que repetiria a intensidade dos cortes realizados até então, de 0,5 ponto percentual.
O racha no Copom de maio colaborou para a deterioração das expectativas deinflação. Na última segunda-feira (17), o boletim Focus mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2025 foi revisado para 3,8%, em um sequência de altas por sete semanas consecutivas. Para 2026, a projeção é de 3,6%.
A piora das expectativas para o cenário futuro se refletiu no preço dos ativos, com a depreciação do real frente aodólar. Amoeda americana chegou a atingir R$ 5,482na máxima do dia nesta quarta. Ela estava cotada a R$ 5,15 na reunião do Copom de maio.
No cenário doméstico, cresceu a percepção de maior risco fiscal entre os agentes econômicos, e a atividade econômica seguiu mostrando resiliência. Quanto ao ‘adverso’ ambiente internacional, a preocupação com relação ao início do ciclo de redução de juros nos Estados Unidos continuou no radar.
Na semana passada, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos,decidiu manter a taxa básica de juros do país na faixa entre 5,25% e 5,5%e sinalizou que pretende fazer apenas um corte de 0,25 ponto percentual nos juros neste ano.
Quanto ao fiscal, o comitê disse monitorar ‘com atenção’ o impacto que as recentes decisões têm sobre a política monetária e os preços dos ativos financeiros, ou seja, do dólar.
Reafirmou que ‘uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida’ contribui para o retorno das expectativas de inflação em direção à meta e para a redução da precificação embutida no risco de investir no Brasil.
No balanço de riscos para a inflação, o colegiado do BC continuou com a avaliação de que os fatores estão em equilíbrio em ambas as direções.
Entre os motivos que impulsionariam os preços para cima, mencionou maior persistência das pressões inflacionárias globais e maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um mais apertado hiato do produto (margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima).
Entre os fatores que puxariam os preços para baixo, o comitê citou a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e os possíveis impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação em todo o mundo.
‘O comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária’, disse. Falou também em ‘serenidade e moderação’ na condução da política de juros (Folha, 20/6/24)
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