Fluminense e Fernando Diniz têm uma relação que ficou marcada na história por conta da conquista da Libertadores de 2023 e da Recopa Sul-Americana de 2024. Porém a última recordação é de um time que amargava a lanterna do Brasileirão com uma das piores campanhas do Tricolor, o que culminou na demissão do técnico.
Desempregado após perder o emprego no Cruzeiro no começo do ano, o treinador creditou a queda de desempenho do time a uma desmobilização do elenco após a conquista do título continental.
– Eu acredito que não ia cair, senão tinha pedido para sair. Vou prejudicar o clube e cair com o time? Foi uma conjunção de fatores que aconteceram. Ninguém tem uma resposta precisa. A gente pega e ganha a Libertadores, que era um evento descomunal para a história do clube, que mexeu com todos. Não é igual ganhar com o Fluminense , Flamengo, Palmeiras ou Botafogo. Todo mundo trabalha, mas precisava ter muito mais coisa. Não foi com a ajuda de um poder econômico. Como foi com a Unimed em 2008 – afirmou o treinador em entrevista ao Charla Podcast.
Em uma entrevista de mais de três horas, o treinador destacou como o time se mobilizou de forma diferente para a Libertadores em 2023 e que teve poucos momentos com o mesmo foco após o título. Dois, para ser mais preciso, o Mundial e a Recopa.
Para ele, a queda de concentração somada aos desfalques de André e Arias e à saída de Nino para o Zenit, da Rússia, são boa parte da explicação do mau desempenho no começo do Brasileirão de 2024.
Diniz foi demitido após a 11ª rodada, quando o time tinha apenas seis pontos, uma vitória, três empates e sete derrotas. O pior início tricolor na história dos pontos corridos.
– Tinha que saber estancar a queda para voltar a subir. O Nino foi vendido, o Arias vai para a seleção e o André machuca. Aquele time que deu uma encantada não existia mais. O Fluminense voltou a ganhar quando voltou o André, o Arias e chega o Thiago para o lugar do Nino. Aí o time tem uma sequência positiva.
Relações pessoais
Diniz se notabilizou ao longo da carreira por construir uma relação muito forte com os jogadores que treina. Até por isso o clima após a demissão em 2024 foi de muita tristeza, com atletas chorando copiosamente no centro de treinamentos.
Por diversas vezes, ele afirmou que é o grande foco do trabalho que faz. Fazer com que os jogadores se sintam melhores praticando um estilo de jogo que sonhavam quando começaram a jogar.
Um dos exemplos disso é o atacante John Kennedy, autor do gol do título da Libertadores de 2023 que teve problemas extracampo, mas recebeu uma segunda chance.
– Eu conversei com o John Kennedy mais de 50 vezes. Era quase todo dia. Às vezes não fazia, acertava, errava. É um processo de construção. Eu também tenho um limite. Queria ter ajudado mais ele . Quando eu cheguei em 2022, coloquei para jogar, entrou um pouco. Começou a dar problema, coloquei ele no sub-23, depois para o sub-20, e aí eu construí uma ida dele para a Ferroviária. Foi bem no Paulista, voltou, o time estava bem, fui colocando aos poucos e ele foi indo. Vira e mexe ele dava trabalho. Tem uma instabilidade. Precisa de ajuda. Talvez a gente não consiga oferecer a ajuda que ele precisa, mas precisamos nos esforçar .
Diniz, no entanto, destacou que não são apenas os jovens que precisam de atenção especial. Estrelas, como o multicampeão Marcelo, também. Foi através de uma longa conversa que ele conseguiu ajudar o lateral-esquerdo a se sentir mais confortável dentro do time.
– Todo mundo precisa de ajuda no futebol, o Marcelo também precisava . Precisava se reencontrar, ser aceito do jeito que é, pois ele tem as particularidades dele. Precisava ser ouvido. Ele é um cara que joga mais bola do que futebol. Negócio dele é bola. A gente foi se entendendo. Teve um dia que a gente começou a conversar, estava com sol e terminou à noite. Depois daquele dia ele foi embora. É um cara diferente, não adianta você tratar todo mundo igual.