“Um milagre de Deus’. É assim que Júnior Tavares define a trajetória de superação dos últimos meses após superar um tumor no cérebro e voltar ao futebol. O lateral-esquerdo com passagem por São Paulo, Ponte Preta, Sport e Náutico se manifestou pela primeira vez sobre o retorno aos gramados.
Desde julho no Omonia Aradippou, time da primeira divisão do Chipre, Tavares confidenciou, em postagem nas redes sociais, que médicos chegaram a recomendar o fim da carreira, mas que escolheu persistir e acreditar na retomada por meio de um “milagre’.
– 21 de setembro. Há exato um ano e oito dias eu estava entrando em uma cirurgia. A minha primeira e única. Não foi qualquer cirurgia, mas sim para retirar um tumor no meu cérebro. Exato. Eu estava com câncer. Ouvi muitas coisas de pessoas e também médicos dizendo que seria melhor eu parar ou fazer algo diferente do que eu fazia. Poderia sair com muitas sequelas, pois era uma cirurgia de risco de vida e muito complicada. Sim, eu sabia de todos os riscos, como perda da visão, falta de controle sobre a movimentação do corpo ou a morte. São palavras fortes, mas essa era a minha realidade há um ano. E sim, eu consegui vencer o câncer. E consegui sair sem sequelas e com a saúde estável novamente.
– Isso foi um milagre de Deus em minha vida. Ele tinha algo a mais para mim, assim como eu também queria algo a mais para minha vida e carreira. Graças a Deus continuo fazendo o que amo e na minha primeira partida de volta aos gramados, depois de um ano e sete meses longe, eu realmente pude fazer minha reestreia.
Júnior Tavares já soma quatro jogos pelo Omonia Aradippou, com um gol marcado em sua terceira partida. O próximo objetivo é atuar por 90 minutos – o que ainda não ocorreu em sua passagem pelo Chipre.
– Deus é tão generoso que me agraciou com um gol na minha volta. Nessa hora passou um filme sobre tudo que aconteceu em minha vida. Radioterapias, sessões de exames, dores, dias sem dormir, preocupações, cansaço físico e mental. Mesmo assim, minha fé seguia intacta, pois não eram palavras de homens que mudaria isso, porque a palavra do Senhor era meu combustível. Hoje estou de volta com saúde, vida, alegria e muita vontade. Pela primeira vez estou falando sobre isso. Digitando sobre tudo, eu fico emocionado por chegar até aqui. Venci uma batalha difícil contra uma doença difícil. Eu não vou parar. Isso é para as pessoas que falaram que eu não iria conseguir. Bom, eu consegui e estou de volta.
“Não enxergava o companheiro do lado”
Antes de voltar aos gramados, Júnior Tavares tinha entrado em campo pela última vez em 23 de junho de 2023. Na época ainda era jogador da Ponte Preta e atuou por 25 minutos contra o Atlético-GO, pela 13ª rodada da Série B.
– Eu já estava tomando remédios na concentração porque sentia muita dor de cabeça. Então pedi um relaxante e fui para o jogo – lembrou Tavares, em entrevista ao ge e à EPTV, afiliada da Rede Globo, em abril.
– Eu lembro que o Artur (hoje no Água Santa) estava jogando como terceiro zagueiro. Eu pedi para ele aproximar porque não estava conseguindo enxergá-lo e ele virou para mim e disse “estou do seu lado, cara. Você tem que falar com o nosso médico”.
Foi quando Tavares decidiu conversar com os médicos da Ponte Preta pela primeira vez. Ele relatou a frequência das dores na região da cabeça e foi encaminhado para uma bateria de exames.
– A gente passou por dois exames e não constatou nada. Então eu segui treinando e jogando, mas quando passava 10 minutos de atividade física minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento.
Depois de um treinamento em Campinas, o lateral-esquerdo voltou a se queixar de dores e foi encaminhado para um especialista.
– Ele fez exames de pronto socorro de tomografia e muitas vezes eles não são adequados porque não detectar um diagnóstico completo. No caso do Júnior não teve um resultado significativo durante o tratamento, mas pode comprometer em outras situações. O mais importante é ficar atento na frequência das dores – explica Juliana Zuiani.
“Chorei quando comecei a perder meus cabelos”
Júnior Tavares se afastou dos gramados para investigar as causas de frequentes dores de cabeça e também da visão às vezes escurecida. Ele passou por cirurgia em 21 de setembro de 2023.
– O tumor do Júnior foi em uma região que a gente precisava tomar muito cuidado por conta da questão visual. Estava próximo das fibras da função ótica e por isso que eles sentiu muitos sintomas na vista – conta a neurocirurgiã.
– A cirurgia demorou cerca de três horas porque estava bem grande. Foi um sucesso, tanto que o Júnior saiu da cirurgia com o tumor ressecado e sem nenhuma sequela.
Quatro semanas depois da cirurgia, Júnior Tavares foi liberado para retomar atividades físicas de forma moderada e começou um tratamento de radioterapia complementar.
– A gente precisava da complementação e iniciamos o advence radioterapia que tem a intenção de esterilizar para que a doença não retorne mais ali – relata a radioncologista Joyce Gruenwaldt.
Foi justamente neste período que Tavares passou por um momento de maior sensibilidade.
– No dia 30 de dezembro, antes do ano novo, meu cabelo começou a cair. Foi a primeira vez eu chorei de verdade. Eu estava bem, tinha voltado bem da cirurgia e dando risada porque sou um cara que astral pra cima, mas aquele dia eu fiquei muito abalado.
A força para continuar e seguir em frente estava no apoio familiar. Ele se apegou ao filho Caio, de 10 anos, para não desistir e continuar acreditando na total recuperação.
– Eu me vejo como um cara vencedor. Deus está me dando uma nova oportunidade. É muito difícil vencer essa doença que eu tive, mas nunca pensei nada negativo. Sempre acreditei muito, me apeguei aos meus familiares e hoje posso dizer que sou um vencedor depois de tudo que passei.
Além de São Paulo, Ponte Preta, Sport e Náutico, Tavares defendeu a Sampdoria, na Itália, e o Portimonense, em Portugal.
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